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Recrutamento sem etarismo: como o RH pode utilizar a experiência dos profissionais mais velhos

Por
Camila Maranhão
Camila Maranhão
Recrutamento sem etarismo: como o RH pode utilizar a experiência dos profissionais mais velhos

O envelhecimento populacional é uma realidade global que está transformando o mercado de trabalho. Segundo a ONU, o aumento da expectativa de vida e a queda nas taxas de natalidade têm levado a uma presença cada vez maior de profissionais mais velhos no ambiente corporativo. No entanto, ainda é comum observar empresas que resistem em contratá-los, seja por preconceito, por desconhecimento ou por falta de preparo para lidar com equipes multigeracionais.

O etarismo – discriminação baseada na idade – continua sendo uma barreira silenciosa em muitos processos seletivos. Ele aparece de forma sutil, em comentários sobre a “energia” esperada para determinada função, na preferência por perfis “mais modernos” ou até na exclusão automática de candidatos com longas trajetórias profissionais. O papel do RH, nesse contexto, é fundamental para romper com esse ciclo e criar processos de recrutamento e integração verdadeiramente inclusivos.

O valor da experiência no ambiente de trabalho

Profissionais mais velhos trazem consigo uma bagagem que vai muito além das competências técnicas. Eles acumulam anos de prática, visão estratégica, maturidade emocional e capacidade de adaptação a diferentes cenários econômicos e organizacionais. Em muitos casos, essas pessoas se tornam referências de equilíbrio e mentoria para equipes mais jovens.

Enquanto alguns gestores ainda associam idade à falta de inovação, pesquisas comprovam o contrário. Profissionais seniores tendem a apresentar alto nível de comprometimento, estabilidade e habilidade em lidar com situações complexas. Além disso, contribuem para a diversidade de pensamento, o que enriquece as tomadas de decisão e melhora a performance das equipes.

Empresas que entendem o valor dessa experiência criam times mais fortes, inovadores e preparados para lidar com os desafios do mercado. Afinal, a verdadeira inovação surge quando diferentes gerações trabalham juntas, combinando energia, repertório e perspectivas complementares.

O papel estratégico do RH na quebra do preconceito etário

O primeiro passo para um recrutamento sem etarismo é reconhecer que o preconceito etário ainda existe e que ele pode estar presente, mesmo que de forma inconsciente, nas práticas de seleção. O RH precisa atuar como protagonista na mudança cultural da empresa, conduzindo reflexões sobre os benefícios da diversidade geracional e mostrando, com dados e resultados, que a experiência pode ser um grande diferencial competitivo.

Essa transformação começa antes mesmo da abertura de uma vaga. É essencial que o RH prepare a empresa para receber profissionais mais velhos. Isso inclui orientar os gestores das áreas sobre o valor que esses profissionais podem agregar, além de promover uma cultura de respeito e colaboração entre as gerações. Muitas vezes, o maior desafio não está na contratação, e sim na integração.

Alguns líderes ainda resistem a entrevistar candidatos com idade mais avançada, por acreditarem que eles não se adaptarão ao ritmo da equipe ou às novas tecnologias. Esse tipo de visão precisa ser desconstruído com informação e diálogo. Cabe ao RH apresentar exemplos de sucesso, evidenciar as competências desses profissionais e garantir que todos os processos estejam alinhados a uma política de inclusão etária.

Estratégias para um recrutamento inclusivo e livre de vieses

  1. Revisar descrições de vagas
    A idade realmente é fator importante para a vaga? Repense antes de usar termos como “perfil jovem”, “energia para acompanhar ritmo acelerado” ou “profissional recém-formado”. Essas expressões reforçam estereótipos e afastam candidatos mais experientes. O foco deve estar nas competências e resultados esperados, não na idade.

  2. Capacitar recrutadores e líderes
    Treinamentos sobre vieses inconscientes ajudam os profissionais de RH e gestores a identificar julgamentos automáticos que interferem na seleção. A empatia e a escuta ativa são essenciais para compreender o valor que cada candidato pode oferecer.

  3. Valorizar competências transferíveis
    Profissionais mais velhos trazem vivências e aprendizados construídos ao longo de anos de atuação, o que os torna peças-chave em ambientes colaborativos. Essa bagagem permite que contribuam com uma visão mais ampla e sistêmica sobre o mercado de trabalho, ajudando equipes a lidar com desafios de forma mais estratégica.

    Ao mesmo tempo, essa troca pode ser enriquecida pelo contato com profissionais mais jovens, que trazem novas perspectivas, tecnologias e formas de pensar. Quando o RH promove essa integração entre gerações, cria um ambiente de aprendizado mútuo, onde todos crescem e a empresa se fortalece.

  4. Conduzir entrevistas com propósito e escuta ativa

    Mais do que seguir um roteiro engessado, o processo de entrevista precisa ser estratégico e humano. É essencial que o recrutador estude a vaga, compreenda o contexto da área e identifique quais competências realmente fazem diferença para o desempenho naquela função.

    A entrevista por competências é uma excelente ferramenta para isso, pois permite que o candidato fale sobre suas vivências, desafios e aprendizados.

    O papel do entrevistador é conduzir essa conversa de forma estruturada, estimulando o candidato a trazer exemplos práticos que evidenciem comportamentos e habilidades relevantes para a vaga.

    Essa abordagem gera conexões mais autênticas, amplia a compreensão sobre o potencial do profissional e ajuda a reduzir julgamentos baseados apenas em aparência, idade ou estilo de comunicação.

  5. Rever o processo de integração
    Contratar um profissional mais experiente é apenas o início. O RH deve assegurar que ele seja bem recebido e que haja um ambiente de respeito mútuo entre as gerações. Programas de mentoria reversa, em que jovens ensinam novas tecnologias enquanto aprendem sobre gestão e experiência, são estratégias eficazes para promover essa troca.

  6. Reforçar a comunicação sobre diversidade etária
    Campanhas internas que valorizam a experiência e o aprendizado contínuo ajudam a quebrar paradigmas. É importante que a diversidade geracional seja reconhecida como um pilar da cultura organizacional, e não apenas uma ação pontual.

A inclusão como vantagem competitiva

Empresas que investem em diversidade etária ampliam sua capacidade de inovação e fortalecem sua imagem no mercado. A convivência entre diferentes gerações estimula a troca de ideias, a aprendizagem contínua e a construção de soluções mais criativas e equilibradas. Equipes compostas por profissionais de idades distintas tendem a apresentar maior estabilidade emocional, colaboração e produtividade, justamente por combinarem a energia e o olhar inovador dos mais jovens com a experiência e a visão sistêmica dos profissionais seniores.

Um estudo da OECD (2020) confirma que organizações com maior diversidade etária registram ganhos significativos de produtividade e inovação, especialmente quando promovem ambientes colaborativos e inclusivos. A combinação de gerações não apenas melhora os resultados de negócio, como também reforça a reputação da empresa como um espaço de respeito e valorização de pessoas.

No cenário atual, em que há escassez de mão de obra qualificada e aumento da expectativa de vida, aproveitar o potencial de profissionais seniores não é apenas uma questão de responsabilidade social, é uma estratégia de negócios inteligente.

O papel do RH na transformação cultural

Para que o recrutamento sem etarismo se torne uma realidade, o RH precisa estar preparado para ser o agente dessa mudança. É o setor responsável por criar políticas, processos e práticas que valorizem a experiência e combatam estereótipos.

Ao mesmo tempo, o RH deve promover a sensibilização dos líderes e das equipes, estimulando um ambiente de aprendizado contínuo, onde cada colaborador se sinta valorizado por suas competências e trajetória.

Essa transformação requer coerência e constância. Não basta abrir espaço para profissionais mais velhos se o ambiente não estiver preparado para acolhê-los. É necessário rever comportamentos, ajustar processos e alinhar a cultura organizacional a um propósito verdadeiramente inclusivo.

A Priorize Gestão e o RH estratégico

A Priorize Gestão acredita que o verdadeiro diferencial competitivo das empresas está nas pessoas. Por isso, sua consultoria de RH apoia organizações que desejam tornar o setor de Gestão de Pessoas mais estratégico, alinhando ações à cultura e aos resultados do negócio.

Com uma abordagem humanizada e orientada por dados, a Priorize ajuda empresas a desenvolver políticas inclusivas, aprimorar processos seletivos e fortalecer a cultura organizacional. A consultoria oferece suporte completo para que o RH atue como parceiro do negócio, capaz de gerar impacto real por meio das pessoas.

Transformar o RH é o primeiro passo para transformar a empresa. E essa mudança começa com a valorização da experiência, da diversidade e do potencial humano em todas as idades.

Camille Holmer

Camila Maranhão

Coach, mentora e facilitadora de treinamentos, consultora e especialista em Desenvolvimento Humano

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